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sábado, 13 de fevereiro de 2010

O CASO CALABOTE... por João Queiroz


Durante a viagem que efectuei na sexta-feira a Lisboa para poder assistir ao congresso Sports & Diáspora que decorreu no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, terminei a leitura do livro intitulado O Caso Calabote, da autoria do Dr. João Queiroz.

Trata-se de uma obra que se centra na arbitragem de Inocêncio Calabote num célebre jogo disputado entre o slb e a CUF no dia 22 de Março de 1959. Este jogo é sublinhado pelos adeptos do Futebol Clube do Porto como o emblema máximo de um longo passado que percorreu os anos do regime salazarista e durante os quais o clube encarnado recebeu o favorecimento, não só das arbitragens, mas também de todo o aparelho institucional do futebol português e mesmo do poder político. Tal processo era também complementado por um conjunto de agravos e prejuízos que negaram vitórias às grandes equipas que o Futebol Clube do Porto apresentava. A esta representação do passado procuram opor-se os apaniguados da agremiação lisboeta, procurando destacar que o jogo mencionado decorreu com toda a normalidade, não havendo, por isso, qualquer razão de queixa por parte dos adeptos do Futebol Clube do Porto.

O livro que aqui se comenta é um contributo muito importante para o esclarecimento deste episódio do futebol português. A análise comparativa do conteúdo das notícias publicadas pelos vários jornais da época, assim como o conjunto de depoimentos muito significativos dos agentes desportivos que estiveram de alguma forma envolvidos no jogo disputado no estádio da Luz e ainda no jogo de Torres Vedras entre o clube local e o Futebol Clube do Porto, permitiram ao autor apresentar uma configuração de factos, interpretações e contextualizações que, a meu ver, não suscita grandes dúvidas quanto aos processos ilegítimos e eticamente reprováveis empregues para proporcionar ao clube encarnado mais um vitória num campeonato, em prejuízo do Futebol Clube do Porto, ferindo-se assim a verdade desportiva que hoje tantos apregoam... quando perdem.

Num passado recente, algumas escutas telefónicas foram pretexto para a formação de um Dream Team da investigação judicial portuguesa. Emergiram, pois, acusações de corrupção ao Presidente do Futebol Clube do Porto por este, alegadamente, ter «comprado» árbitros com o intuito de ganhar jogos de forma fraudulenta. Todavia, tais acusações ruíram como um castelo de cartas perante a apreciação da Justiça (a verdadeira, que não outra a quem já ninguém Liga) e foram arquivados por ter ficado claro que não houve qualquer beneficio por parte dos árbitros no jogos em causa.

No entanto, e apesar disso, são muitos aqueles que ainda recorrem às escutas (não às que surgem nos despacho dos senhores juízes porque essas dão muito trabalho a ler, mas sim as que a comunicação social quer que sejam lidas) para legitimar os seus discursos que procuram colocar em causa a probidade dos muitos campeonatos que o Futebol Clube do Porto ganhou por larga margem nos anos pós 25 de Abril, assim como os sucessos futebolísticos além fronteiras que o tornaram no clube português com maior palmarés internacional. Mas compreende-se. Afinal, é o princípio do desejo que se sobrepõe ao princípio da realidade. Freud explica. Se assim não fosse, com poderiam suportar as grandes frustrações decorrentes de longos anos de um calvário de derrotas? O que ouviríamos hoje se o evento realçado por João Queiroz envolvesse o Futebol Clube do Porto?

Por maioria de razão, o que a obra «O Caso Calabote» revela, e que muitos não gostam certamente de ler, justificaria, hoje, uma investigação judicial com prova bem fundamentada. À época, tal não era possível... a bem da Nação.
Mas mesmo nos dias que correm, duvido que tal investigação fosse efectuada e duvidaria também dos resultados da mesma. Afinal, como se viu ontem no Estádio do Mar, continuam as arbitragens com «paixão».
A bem da Nação...

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