ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

quarta-feira, 31 de março de 2010

A FRUTA



Bastou Pinto da Costa dar uma entrevista a Judite de Sousa para surgir logo aqui pela internet em tudo o que é comentário as alusões à fruta e ao café com leite. Nada que surpreenda. Essa tem sido, aliás, a única forma que muitos encontram para, num acto terapêutico, aliviarem o peso de anos e anos de derrotas e frustrações.

Se não houvesse esta desculpa dos benefícios dos árbitros, como seria a dor da comiseração de tantos anos de insucessos? Se assim não fosse... ainda se suicidavam.

Na verdade, é muito mais fácil ler e ouvir escutas meticulosamente seleccionadas com o intuito de visarem e denegrirem o pesidente do Futebol Clube do Porto, do que ler cuidadosamente todas as páginas das sentenças dos tribunais onde, aí sim, a escuta é transcrita na sua totalidade e onde fica também claramente demonstrado o depoimento ficcionado de uma escritora. Mas isso, para além de muito trabalho, não interessa para o que se pretende. E cansa muito a cabeça e esta já está massacrada por muitos anos de derrotas.

Nos últimos quatro campeonatos que o Futebol Clube do Porto conquistou, o slb nem sequer a segunda posição conseguiu. Já para não lembrar o célebre sexto lugar precisamente no ano em que o Boavista foi campeão.

É por isso que, ao considerar essa função catártica do discurso da fruta e das escutas, nem tenho dito nada. Mas sinceramente... já cansa. Isso já devia estar resolvido. Há muitos profissionais por aí que certamente resolveriam este problema.

Assim sendo, talvez a resolução passe por dar a conhecer, ou lembrar, outros pomares. E é isso que vou fazer durante uns dias transcrevendo uma notícia publicada na dita «bíblia» do jornalismo desportivo português, no dia 28 de Novembro de 1995.

O título da mesma foi o seguinte: «As mulheres que amaram Mr. King»
O subtítulo? Este:
UM EX-ÁRBITRO INTERNACIONAL FALOU ABERTAMENTE DA OFERTA DE PROSTITUTAS POR CLUBES EUROPEUS, ENTRE OS QUAIS SPORTING E BENFICA.
Curiosos? Não percam as próximas entradas do meu blogue.

terça-feira, 30 de março de 2010

A PAIXÃO DE CRISTO


O trabalho não me tem deixado vir aqui «respirar» um pouco. Vim agora, e de imediato, porque se iniciou na RTP 2 uma série de seis episódios que vão apresentar o filme A Paixão de Cristo, realizado por Mel Gibson.

Um filme que aconselho. Bem sei que é idêntico a outros. Mas este relata as últimas doze horas da vida de Jesus Cristo até à sua crucificação e evidencia de forma dramática a dimensão do seu sofrimento.

Nesta altura do nosso calendário, seria importante uma reflexão sobre o sentido que a Páscoa deveria assumir em nós. Qual o sentido que lhe atribuí?

sexta-feira, 19 de março de 2010

LIBERDADE



Ai que prazer
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
é Jesus Cristo
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca…

Fernando Pessoa

quinta-feira, 11 de março de 2010

TEMPO



O tempo é inexorável. Minuto a minuto, hora a hora, ele avança.O tempo existe. Mas existe a percepção e a experiência do tempo. Basta para isso pensar que a nossa concepção de tempo linear não é a única do mundo. Outras sociedades têm uma concepção cíclica do tempo e portanto uma percepção diferente do mesmo.

Estou por isso convicto de que muitas vezes não é a passagem dele pelas nossas vidas que nos atormenta, mas a opinião e atitude perante o mesmo que nos leva a envelhecer mais. Para que possamos ter a maturidade sem a pagar com a idade, teremos que ter a atitude adequada para com o tempo.

É inevitável. A Biologia não falha e por isso o envelhecimento do nosso corpo é inevitável. Porém, podemos envelhecer para a vida e não envelhecer da vida. A idade é também um estado de espírito. E esse podemos tentar renovar. Tenho que pensar nisso, porque dos meus cabelos brancos não me importo. Para finalizar, deixo-vos um belo texto escrito pelo Rei Salomão que, na sua infinita sabedoria, pensou assim o tempo e escreveu as suas considerações acerca do mesmo no terceiro capítulo do livro de Eclesiastes.

Tudo tem o seu tempo determinado
e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar, e tempo de curar;
tempo de derrubar, e tempo de edificar;
tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar, e tempo de perder;
tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
tempo de rasgar, e tempo de coser;
tempo de estar calado, e tempo de falar;
tempo de amar, e tempo de odiar;
tempo de guerra, e tempo de paz.
Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.
Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem,
sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.
Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida. E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho;
isto é um dom de Deus.
Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente;
nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar;
e isto faz Deus para que haja temor diante dele.
O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi;
e Deus pede conta do que passou.
Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia impiedade,
e no lugar da justiça havia iniquidade.
Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio;
porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.

sábado, 6 de março de 2010

NÃO TEMOS CULTURA DE ADEPTO DE FUTEBOL


O jogo entre as selecções nacionais de Portugal e da China foi mais uma tristíssima demonstração da falta de um cultura de adepto de futebol em Portugal. Considero inaceitável que uma selecção nacional portuguesa, a jogar no seu próprio país, possa ser apupada; ou pior; mesmo brindada com a entoação de olés por parte de um público que, supostamente, a deveria apoiar em todas as circunstâncias.

Nunca gostei dos olés. Nem sequer nas touradas e muito menos nos estádios de futebol. Entendo que os mesmos são indignos e desrespeitam o esforço dos jogadores de uma equipa, seja ela qual for, sem a qual não seria possível realizar o jogo a que as pessoas assistem. Por maioria de razão, tal comportamento é completamente inadmissível quando visa a equipa que pretendíamos apoiar inicialmente.

Muitos dos portugueses que se deslocam aos estádios de futebol para verem os jogos permanecem nos mesmos numa dualidade não resolvida. Se apenas pretendem assistir a um bom espectáculo de futebol, sejam coerentes no comportamento e aplaudam ambas as equipas e seus jogadores sempre que o desempenho destes é merecedor.

Porém, a condição de adepto pressupõe um comportamento tendente a apoiar uma equipa. Não creio que apupar o desempenho da equipa da nossa predilecção possa constituir um grande apoio à mesma. Muito menos a humilhação dos seus jogadores através de olés.

É muito fácil exultar e apoiar quando a equipa com a qual nos identificamos está a ganhar. Mas é quando esta está a perder que mais necessita do apoio dos seus adeptos. É quando a vida nos é adversa que mais necessitamos de ajuda. Este é mais fácil dispensar quando tudo nos corre bem.

Em Portugal, e passada a euforia dos primeiros minutos de jogo, a tensão e as dificuldades inerentes ao mesmo emudece muitas vezes os adeptos e estes passam a actuar por reacção e não tanto por acção de apoio. Muitas vezes, é a equipa que puxa pelos adeptos e não o que seria de esperar, ou seja, os adeptos a puxar pela equipa. Quando as exibições são pobres e/ou os resultados adversos, nega-se a condição de adepto e surgem mesmo os assobios e os apupos. É a esperança perdida. É a equipa com a qual nos identificamos projectivamente esperando que vença por nós que nos defrauda. Compreende-se, mas não se aceita. Sobretudo porque prejudica a equipa que inicialmente se pretendia apoiar.

Bem sei que esta é uma generalização, quicá abusiva, do que se passa com os adeptos de futebol em Portugal. Todavia, os vários anos de presença regular nos estádios de futebol portugueses e de observação do comportamento dos adeptos portugueses criou em mim a convicção que temo muitos adeptos de festas. Esta é a denominação que atribuo a muitos que comparecem apenas nos períodos de sucesso das equipas ou mesmo somente no dia em que a vitória se concretiza, lotando então, nesses dias, os estádios. No dia da festa é fácil. Tudo está feito e é só lançar os foguetes.

No entanto, quando é preciso suportar a chuva e o frio, sofrer quando a equipa perde, percorrer largos quilómetros e gastar verbas avultadas para apoiar a equipa, estão presentes apenas o verdadeiros adeptos. E desses... não há muitos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

PARABÉNS MANCHA NEGRA


Hoje pretendo deixar aqui uma saudação especial à claque Mancha Negra, pois este grupo faz 25 anos. Esta, como outras claques, são a prova que acabam mais depressa alguns dirigentes desportivos e até clubes do que propriamente as claques. Por mais que queiram acabar com elas.

A Mancha Negra é também a prova de como é estulta a generalização gratuita que muitos fazem acerca das claques. Eu sei que já se iniciou o julgamento de membros dos No Name Boys. Conheço também a gravidade dos crimes de que os arguidos estão acusados. Já em 1999 questionei mesmo o recurso ao termo Claque para designar os No Name Boys. Os próprios excluem-se do Movimento Ultra. Estão longe de serem representativos do que são as claques em Portugal.

O julgamento que agora se efectua vai precisamente no sentido da responsabilização objectiva e individual. Foi o que sempre defendi. Aqueles que no seio das claques ou a coberto destas perpetram crimes devem ser punidos pelos seus actos; para que tal castigo sirva de exemplo aos outros e funcione como efeito dissuasor. Assim se afastarão aqueles que devem ser afastados, até para benefício das próprias claques.

Ao invés, outros optam por tomar a nuvem por Juno e não distinguem o trigo do joio. Consequentemente, atiram «lama» sobre todos os membros de todas as claques. Classificam assim tudo e todos por actos que apenas uma minoria pratica. Como se as claques fossem todas iguais e, por maioria de razão, todos os membros de cada claque fossem também todas iguais. Como se sentiriam aqueles que desqualificam a generalidade das claques e seus membros se, sobre todos os que pertencem à classe profissional em que se inserem, fossem generalizados os crimes que apenas uma minoria dos que a ela pertence cometeu?

Este discurso pobre, ignorante, redutor e de generalização fácil estigmatiza e tem o efeito perverso de concorrer para a promoção do que se critica. Em consequência do mesmo, e para não sofrerem com tais classificações e etiquetas, alguns membros das claque abandonam os grupos evitando conotar-se com as mesmas aos olhos da opinião pública, do patrão ou até dos professores. Encontrei vários casos desses na minha investigação. Ao invés, uma imagem tão negativa das claques constitui para muitos a motivação para as integrar e prossseguir e reproduzir no seio destas, sob a ilusão do anonimato, uma carreira de delinquência já presente no quotidiano.

No entanto, parece que ninguém se interroga a este respeito. Opta-se por leis que algumas claques fingem cumprir. Por sua vez, as entidades responsáveis pela sua verificação fingem que as mesmas estão a ser cumpridas, nem que seja apenas uma parte. Outros pontos da lei permanecem letra morta, mas com esses ninguém se importa. Mais tarde alguém cá estará para enfrentar os efeitos perversos da legislação, bem mais gravosos do que os problemas actuais. Os primeiros sinais já estão aí, mas isso não é problema. Relativamente às claques todos têm já soluções para tudo, mesmo que estas criem mais problemas - e mais graves - do que aqueles que já existem.

Reitero as minhas felicitações à Mancha Negra pelo seu aniversário e pela opção legal tomada.