ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

sábado, 18 de setembro de 2010

Palavras ditas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava
Olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.


Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Recordando jantar no El Rancho e a união e alegria que o Benfica nos dá!


Não. Não vou retomar o assunto Prof. Carlos Queiroz, embora se conheçam (?) agora as «razões» que a Federação Portuguesa de Futebol do Dias apresentou para o seu saneamento. Claro que as mesmas suscitam-me algumas considerações que posteriormente apresentarei.

Relembro hoje um jantar no restaurante El Rancho, em Albufeira. Quando perguntei ao funcionário que me recebeu se tinha mesa disponível para quatro pessoas, ele hesitou. Mas tal hesitação rapidamente se desvaneceu quando referi que pretendia também ver na televisão o Nacional da Madeira a ganhar ao slb. Ele, sportinguista de coração, também perfilha os meus interesses quanto aos resultados do clube da segunda circular. Durante o jantar fomos mantendo um interessante diálogo, reforçado pela alegria dos dois golos do Nacional da Madeira.

Claro que no final do jogo não me poderia esquecer do velho slogan que se aplica nestes casos:


O que é Nacional é bom.

E depois ainda me fui lembrar da massa da marca Nacional. Fui então presenteado com um pacote de massa que ainda guardo - e guardarei - como recordação deste momento. Espero agora que não tenha que comer a massa da Nacional no próximo jogo...

Entretanto, o diligente e simpático funcionário do El Rancho apresentou-me também um senhor que media certamente mais de dois metros. Como podem verificar, eu deveria ter ido buscar a lista telefónica para ficar melhor na fotografia. Mas lá estava o pacote da massa. Claro que o denominador comum aos três era a alegria que o Benfica nos tinha acabado de dar. Para além disso, ainda foi chamado um portista que visita por vezes o estádio do Dragão e com ele também foi possível trocar algumas palavras.

E assim, pelo futebol, se conhecem pessoas. Nele, e por ele, tenho feito alguns amigos.

O que escrevi torna patente uma dimensão ontológica do desporto que merece uma reflexão mais completa e à qual aqui voltarei.

sábado, 11 de setembro de 2010

AI PORTUGAL ... NÃO TE DEIXES ASSIM VESTIR


Ficamos agora a saber pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros que os recentes acontecimentos relativos à selecção portuguesa de futebol não são bons para a imagem do país.

Obrigado Sr. Ministro pelo alerta.
Por acaso não tínhamos reparado nisso... de tão difícil que era perceber tal enigma.
Mas vá então falar com o seu colega de Governo, Sr. Secretário de Estado da Juventude e o Desporto, bem como com a Federação Portuguesa de Futebol.

O primeiro descobriu, já passado o Mundial, que os factos relativos ao Prof. Carlos Queiroz eram graves. Depois não teve qualquer problema com a imagem de Portugal quando mandou o «recado» à direcção da Federação Portuguesa de Futebol quanto ao que deveria ser a liderança e sobre o que esta deveria ter feito. Depois de «atirar a pedra» remeteu-se ao silêncio ensurdecedor.

Agora temos uma Federação que despede o treinador afirmando justa causa para tal e insinuando uma diminuição de resultados. Certamente deve ter sido o treinador o responsável por um falhanço inacreditável do guarda-redes da Noruega ou pela fraca prestação defensiva da equipa em Guimarães. Foi o Prof. Carlos Queiroz o culpado da lesão de Cristiano Ronaldo que, à semelhança de muitas lesões de muitos jogadores no passado, o impediu apenas de jogar pela selecção, mas com recuperação milagrosa garantida para o próximo jogo do clube. Na verdade, os jogadores vão dando grande demonstração da sua Portugalidade e amor à causa.. enquanto são titulares Quando tal não acontece, mandam logo a cartinha a porem-se ao «fresco». Gerem os seus próprios interesses...

O Conselho de Disciplina da Federação impede, pela aplicação de um castigo desproporcional, que o treinador oriente a equipa. Depois vem alguém agravar o castigo, julgando em causa própria e deitando para o caixote do lixo a decisão de juristas. E a Federação, «servindo-se» de um castigo que contraria uma decisão de um dos seus próprios órgãos, perde o respeito por si própria e despede o treinador.

A imagem de Portugal sai afectada, mas não apenas por este processo kafkiano. A imagem de Portugal fica marcada pelos já habituais ínvios atalhos onde «os chicos espertos» aproveitam uma pena desajustada e que transforma, como escreveu Foucault, o prevaricador em vítima, para «chutar» para as calendas dos tribunais o pagamento do «papelinho» que eles próprios acordaram escrever no contrato. E assim se faz um saneamento, mas ao contrário. Não como os do P.R.E.C.

E assim se perde um projecto, em detrimento do imediatismo resultadista sempre dependente da bola no poste ou do árbitro.

É por estas assim que o grande escritor Jorge de Sena sublinhou a cultura necrófila de Portugal. Na verdade, sofremos mesmo de uma autofagia que nos arruína. Por isso me recordo agora de alguns versos da conhecida canção de Sérgio Godinho Não te deixes assim vestir, do já antigo disco intitulado Coincidências.

Ai Portugal. Dar-te conselhos é bem pouco original
Mas se realmente não quiseres querer-te mal
Olha para ti ó Portugal e não te deixes assim vestir
É que há coletes que são de força
Por mais que o digam não ser.
E há casacas feitas já para se virar
por mais que o digam não ser.
Assim como há botas difíceis de descalçar
por mais que o tentem não ser.
E há coturnos que eu diria «são soturnos»
por mais que o tentem não ser.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Despedimento kafkiano do Prof. Carlos Queiroz


O despedimento do Prof. Carlos Queiroz é mais uma página totalmente kafkiana do futebol português. Esta referência ao autor checo é polissémica e vou explicar porquê. Lembro-me de Kafka porque, à semelhança da sua obra O Processo, estamos também perante um procedimento absolutamente iníquo, novelístico e canhestro. Também me lembro de Kafka porque neste processo encontramos um miserabilismo idêntico ao que encontramos na sua Matamorfose.

Ao que tudo indica, o treinador nacional terá recorrido a termos insultuosos durante os diálogo que estabeleceu com os técnicos que iriam fazer o controlo anti-doping aos jogadores de Portugal. O próprio reconheceu publicamente que foi deselegante e as palavras, se de facto foram proferidas, merecem a reprovação de todos.

No entanto, se os factos têm a gravidade agora atribuída, porque razão o Prof. Carlos Queiroz não foi de imediato suspenso de toda a actividade e sujeito ao competente processo disciplinar? Tal não sucedeu, porque simplesmente teria sido perturbada a preparação para o Mundial de Futebol, bem como o desempenho da selecção nesta competição. Mas outra pergunta subsiste: se Portugal tivesse conseguido um resultado de excelência, o professor estaria hoje a ser despedido?

O Sr. Luis Horta poderia sempre, caso estivesse ofendido com as palavras proferidas, instaurar um processo-crime ao treinador português. Mas assistimos a um processo maquiavélico em que uma entidade julgou em causa própria e contrariou a decisão anterior do Conselho de Disciplina - composto por juristas - que considerou não ter sido levantado qualquer obstáculo à realização do controlo anti-doping.

De qualquer forma, foi assim criado o alibí para que se cumprisse o desejo do Laurentino. Para além de reputar de graves os factos ocorridos, mesmo antes de o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol se ter pronunciado sobre eles, o Estado do Secretário da Política no Desporto não se coibiu de «aconselhar» implicitamente a Federação Portuguesa de Futebol a fazer, precisamente, o que fez hoje. Deve ser aquela coisa da «política de influência». O presidente desta instituição, mais uma vez sem coragem, não foi capaz de dizer publicamente que não recebia recados de ninguém (assim sendo, parece que recebe), que na casa dele mandava ele ou então que não admitia interferências.

E assim se faz Portugal. Uma instituição que assinou livremente um contrato com um treinador que tem e deu a Portugal dois campeonatos do mundo de juniores e que formou jogadores que possibilitaram grande sucesso a outros, despede assim um treinador, escapando, para já, às indemnizações previstas no contrato acordado. Assim se atira para os tribunais e para daqui a alguns anos uma eventual obrigação de pagamento das mesmas. Por agora despede-se, lava-se as mãos e varre-se o «lixo» para debaixo do tapete. Será aquela outra coisa a que alguém resolveu chamar de «razão atendível» que já está a funcionar?

Depois, quem dirigir a federação na altura, que pague a conta... ou feche a porta.

E asim se perde um projecto de restabecimento do futebol juvenil e as consequentes vantagens que poderiam advir para o futuro na própria selecção nacional. Portugal não merece o trabalho do Prof. Carlos Queiroz.

É por estas e por muitas outras que Mourinho afirmou claramente que não quer trabalhar e nem sequer viver neste país.

sábado, 4 de setembro de 2010

Uma breve reflexão que vos deixo


Tivemos oportunidade de ouvir os mais diversos comentários sobre os dados do Eurostat sobre o desemprego em Portugal e a divergência dos mesmos perante os números apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Sublinhe-se que se discutia uma divergência de décimas. Mais uma vez, governo e oposição esgrimiam os mesmos argumentos de sempre. O primeiro colocou em causa os dados revelados enquanto os elementos dos partidos de oposição sublinhavam a gravidade da situação.

Eu preferia ouvir propostas e medidas concretas e concretizáveis para que o desemprego diminuísse. Importa lembrar que aos números correspondem famílias e crianças que sofrem amargamente este drama.

Surgiram entretanto os fortes protestos do povo moçambicano perante aumentos que consideram incomportáveis para as suas já paupérrimas condições de vida. Este tipo de protesto deveria, a meu ver, constituir um sinal do que pode surgir no futuro.

Todavia, os políticos preferem trabalhar para ganhar eleições. Apenas alguns procuram soluções e são menos ainda os Homens de Estado que pensam nas próximas gerações.
Seria conveniente que se recordassem das seguintes palavras do poeta António Aleixo.


Vós que lá do vosso Império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério.