ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DAS NOTICIAS ACERCA DE CONFRONTOS ENTRE MEMBROS DAS CLAQUES



Na sequência do Sporting - slb disputado na noite de terça-feira para a taça que ninguém liga pudemos ver mais uma reportagem sobre a chegada das claques apoiantes do clube da Luz ao Estádio de Alvalade, por vezes mesmo em directos televisivos. Ainda não consegui obter uma resposta satisfatória relativamente ao interesse jornalístico que pode ter a chegada de uma claque ao estádio.
Estou plenamente convencido que o que se procura é, precisamente, noticiar e destacar eventuais situações de violência; até porque tal interesse verifica-se apenas nos grandes jogos de futebol que colocam em compita os três grandes clubes do futebol português. Nos outros jogos, onde a maior parte das vezes nada de significativo ocorre, nenhuma chegada de claque é motivo de notícia e muito menos de directo televisivo.

É certo que nestes grandes jogos a chegada da claque do clube visitante é muitas vezes um momento de tensão e conflito. Trocam-se insultos (que não são exclusivos dos membros das claques) e por vezes umas pedras, garrafas e até umas tochas. Em alguns jogos rebentam também alguns petardos.
E foi precisamente isto que podemos observar. O repórter, à semelhança de muitos outros, não deixou de evidenciar o seu desconhecimento sobre os objectos de cariz pirotécnico usado pelos membros das claques e denominou como «potes de fumo» aquilo que se via claramente serem tochas. Mas pelo menos não cometeu o habitual erro de chamar very-light a tudo que emite luz ou faz fumo, o que já é muito bom.
Sempre defendi que os actos violentos perpetrados por membros das claques devem ser noticiados. Todavia, da forma como tal é feito decorrem efeitos perversos e sobre estes parece haver pouco interesse em reflectir.
Sem uma abordagem histórica ou qualquer outra explicação, o público pensa hoje que a ida a um estádio de futebol, sobretudo no grandes jogos, se tornou numa aventura muito perigosa que deve ser evitada. A verdade é que não há nada de novo debaixo do céu. Acompanho claques de futebol há 16 anos e conflitos como aqueles que foram observados na passada terça-feira sempre ocorreram. Eram até mais frequentes e graves, sem que sobre as claques existisse o controlo policial que podemos constatar presentemente.

Os números comprovam isto mesmo. Se ente 1978 e 1992 se verificou um aumento do número de incidentes entre adeptos no futebol português, tal tendência inverteu-se claramente a partir do ano seguinte e, não obstante pequenas variações de ano para ano, tornou-se decrescente. A grande diferença reside no facto destes incidentes não serem, à época, objecto do mesmo destaque, visibilidade e sensacionalismo por parte da comunicação social.
Para além disso, a visão romanceada de um passado do futebol português caracterizado pelo comportamento pacífico dos espectadores nos estádios desmorona-se rapidamente com a leitura da imprensa desportiva desde o final do século XIX e até à década de 70 do século XX. Esta relatou inúmeras ocorrências de um violência inusitada, impensável e inaceitável nos dias que correm.

Reportagens do teor da que foi apresentada sobre os incidentes entre claques em Alvalade, destituídas de qualquer explicação, produzem e reproduzem uma sensação de «pânico moral» que afasta o público dos estádios, precisamente numa época em que estes nunca foram tão seguros e controlados por forças policiais que apesar de poderem ainda melhorar a sua actuação, são já bastante eficazes na prevenção de confrontos e na implementação de medidas que visam salvaguardar os espectadores.

Esta «sensibilidade» noticiosa para com os actos violentos perpetrados pelos membros as claques e a visibilidade conferida aos mesmos merecerá da minha parte uma análise sociológica que posteriormente publicarei neste espaço.

Sem comentários: