ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lolinha


Estava hoje pela manhã no meu local de trabalho quando recebi a sms que comunicava que a Lolinha tinha falecido.

Conheci a Lolinha na casa de uma amiga. Vi-a duas vezes e dela recordo, sobretudo, o seu sonoro riso. Parece que a estou a ver sentada no sofá frente à televisão. A Lolinha era a irmã de uma amiga a quem manifestei a minha estranheza pelo inesperado desenlace, até porque ainda na passada segunda-feira falei com ela telefonicamente e nada me foi dito sobre qualquer tipo de doença da sua irmã.

Soube que a Lolinha faleceu rapidamente vítima de engasgamento enquanto tomava o seu leite ao pequeno almoço. E assim se perde a vida. Por isso lembrei-me de imediato destas sábias palavras que Tiago nos deixou na sua epístola: «Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece.» (Tiago, 4: 15)

É por isso que tudo se pode perder num momento. Recordo, por isso, a parábola que Jesus apresentou aos que o ouviam acerca de um homem rico. Este, considerando a sua riqueza, dizia para si mesmo: «Alma; tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.» Mas Deus disse-lhe: «Louco! Esta noite te pedirão a tua Alma; e o que tens preparado para quem será?» Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus. (Lucas, 12: 20-21)



De que vale ganhar todas as riquezas e perder a Alma?

A propósito das primeiras gostaria que o caro leitor soubesse que a Lolinha nunca teve a plenitude das faculdades mentais que a generalidade das pessoas tem. Por isso nunca trabalhou e, consequentemente, também não contribuiu para a Segurança Social. Não obstante a Declaração Universal dos Direitos do Homem afirmar que todos os homens são iguais, e apesar da Lolinha não ter tido culpa de não trabalhar, é esta ausência de descontos a razão pela qual não terá direito ao mesmo valor de subsídio de funeral que a generalidade dos cidadãos portugueses pode receber.


Paz à sua Alma e que descanse finalmente em paz.



2 comentários:

Sistermoon disse...

Aos olhos de Deus somos todos iguais, terá certamente paz...

Eugénia Machado disse...

Obrigada Daniel, és um grande Homem,escrever estas palavras a quem mereceu durante a vida pouca atenção por parte da maioria das pessoas e pelo sistema português de saúde e protecção social é um acto de coragem. Não me supreende a tua sensibilidade, o teu amor pelo pròximo e a tua capacidade de na hora certa consolares o meu coração destroçado pelas desigualdades e lutas que venho enfrentado ao longo de mais uma decada, ninguém morre, e por isso tenho-os comigo, pais e irmã, será por isso que sou tão protegida???

Fica com Deus
Eugénia ( irmã da Lolinha)