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segunda-feira, 19 de julho de 2010

As «Portas» do Paulo

Considerando o que escrevi sobre o debate acerca do estado da nação, seria de esperar que a proposta de coligação apresentada por Paulo Portas fosse do meu inteiro agrado. Na verdade, e como princípio estruturante de um futuro governo, poderia até ser proveitoso para o pais uma coligação entre o Partido Socialista, o Partido Social Democrata e o Centro Democrático Social/Partido Popular. Se tal coligação fosse conducente ao primado da eficácia das políticas a implementar para o benefício de Portugal, em detrimento dos interesses estratégicos dos partidos políticos para aceder ao poder e também dos membros carreiristas que os compõem, poderíamos, eventualmente, ter encontrado um caminho para ajudar a resolver os problemas dos portugueses.
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Porém, Paulo Portas foi bem claro. A condição sine quoi non para que tal coligação se pudesse concretizar era o afastamento total de José Sócrates do governo. A informação publicada pelo jornal Expresso sobre a tentativa falhada de acordo, não apenas parlamentar, mas mesmo de governação, entre Portas e Sócrates, bem como a desconfiança pessoal que supostamente, e a fazer fé na notícia mencionada, existe entre os dois, ajuda a compreender tal posicionamento do líder do C.D.S./P.P.
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O problema é que tal proposta deixa claro que Portas sobrepôs as questões pessoais às ideias. A condição sine quoi non, na minha perspectiva, deveria ser a configuração resultante das medidas e políticas propostas e não a pessoa que a propõe. Todavia, para Portas, parece que assim não é. Prefere-se discutir pessoas e não tanto ideias. Talvez seja esta a razão pela qual as alianças políticas e coligações onde Paulo Portas tem participado têm-se pautado por grande consistência e perenidade... ou seja... nenhuma.
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Mas tornar o problema uma questão pessoal - como Nobre Guedes referiu em entrevista na última edição do jornal Expresso - não são o único demérito da proposta efectuada. Eu percebo que no seu narcisismo e auto-contemplação Portas tenha visto na proposta a oportunidade de se apresentar preocupado com o país e pró-activo na procura de soluções para os problemas do mesmo. Entendo também que assim tenha surgido um novo tema para comentar e um novo cenário para traçar. Todavia, parece ser necessário lembrar que José Sócrates ganhou as eleições e, por conseguinte, é primeiro-ministro por vontade do povo português.
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Neste país há muitos que querem ganhar jogos na secretaria. Esta proposta não deixa de ser uma tentativa de Portas chegar ao governo, sem que o povo português que lhe tenha conferido nas urnas tal mandato.
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Já foi assim que Portas chegou a ministro. Por escolha do líder de outro partido; esse sim; vitorioso em eleições e, portanto, sufragado pelos portugueses. Estes votaram no P.S.D. liderado por Durão Barroso e depois, no mesmo «pacote», acabou por vir também Paulo Portas. E assim seria de novo.
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Pelos vistos, quem tanto critica o «Rendimento Mínimo», quer receber o «Rendimento Político Máximo», chegando a ministro por «Portas» travessas e sem a confiança do voto popular. Mais proveitoso seria trabalhar para apresentar propostas que levem os portugueses a conferir ao partido e respectivo líder a legitimidade para governar.

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