ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O debate do Estado da Nação


Passou o campeonato do mundo que nos trouxe alguma evasão de um quotidiano difícil para os portugueses e do qual estamos bem conscientes. A realidade nunca nos permitiria esquecer tal, por muito que alguns que percebem pouco de futebol continuem a insistir que tal jogo distrai a consciência das pessoas para os problemas sérios, mesmo que estes entrem pela casa dentro nos dias que correm.
Regressamos, agora, ao país real. E supostamente seria esse que se discutiria, hoje, no debate relativo ao Estado da Nação que decorreu na Assembleia da República. Todavia, tal como esperado, o debate evidenciou mais do mesmo.

Pretendo com isto dizer que não vislumbrei a honestidade intelectual que entendo como fundamental para avançar na resolução dos problemas do país. Sobressaíram percepções muito diferentes da realidade. De um lado o governo e partido que o apoia. Não obstante reconhecerem os tempos difíceis, consideraram haver bons indicadores para o futuro e foram elogiadas as medidas do governo. Ao invés, dos outros partidos, emergiu uma visão escatológica sobre o estado do país, realçando a situação muito dificil em que o mesmo se encontra do ponto de vista económico, financeiro e social.

Eu entendo que possam haver perspectivas diferentes sobre a realidade portuguesa. É normal. Paul Watzlavik destacou isso mesmo quando escreveu a obra A realidade é real? Mas é lamentável que sobre uma coisa tão séria como a situação do pais haja tal discrepância, sendo que o extremismo das duas posições descredibilize ambas as partes. Foi mesmo ridículo assistir ao esgrimir de argumentos em torno dos números do Instituto Nacional de Estatística e ao acenar de folhas de papel das bancadas. O relatório diz o que diz, ainda que uns vejam a garrafa meio cheia e outros olhem para ela como meio vazia.

Para a descredibilização de algo tão nobre como a política contribui também a forma como se fala no parlamento português. É triste ver que se dá mais importância ao tom comicieiro e gongórico, do que propriamente à força dos argumentos e à validade, pertinência e exequibilidade das propostas. Creio que assim é, porque, na verdade, estas últimas são muito poucas. Se nada há para propor, ao menos que se grite. Pode ser que disfarçe o debate e a política pueril que se faz neste Portugal.

E assim vai correndo o campeonato da política portuguesa, com as equipas - talvez «agências de emprego»? - a posicinarem-se para tentar ganhar as próximas eleições, para aceder ao poder e tão desejados cargos. Uns têm muito verbo, porque não têm que apresentar a verba e falam com a irresponsabilidade de quem não tem que pagar as facturas das medidas propostas. Outros dificilmente reconhecem os seus erros. E ainda há aqueles que são rabo escondido com gato de fora - não; não me enganei - quanto o que propõem relativamente ao futuro de conquistas civilizacionais que importa preservar, ainda que para tal sejam precisas reformas.

E é essa a diferença. São muitos os políticos que gerem o partido e suas carreiras com vista às próximas eleições. São poucos os homens de Estado que fazem política a pensar no futuro das nações.

Para quando um contrato social e político em que a pequena estratégia político-partidária dê lugar a um conjunto de pessoas de reconhecida capacidade e competência para que, enfim, se chegue a um consenso sobre as medidas necessárias e ainda sobre a melhor forma de implementação das mesmas?


O tempo urge e os portugueses esperam. E quem espera desespera...

1 comentário:

Sistermoon disse...

"Ai Daniel como te entendo!" É o que me apetece dizer. Fiz este mês 11 anos de casa, e faço parte da geração do recibo verde e do ordenado mínimo. Quando comecei a trabalhar ganhava 100 contos, cheguei aos 620€ e aí fique, porque baseada na "crise" os meus patões contratam licenciados a ganhar ordenado mínimo e, os mais antigos como têm um salário superior não recebem aumente, é esta a desculpa dos últimos 6 anos... Agora para reduzir custos fomos deslocados para Santo Tirso, pagam-nos o bilhete de comboio... Dá vontade de rir, porque quem já ía de carro continua a fazê-lo, gasta é mais.

Os nossos governantes estão a criar um fosso entre os muito ricos e os muito pobres, a classe média está a desaparecer e quem vive bem são os "malandros" que às custas do rendimento mínimo passam o dia no café... Nem vou dizer mais, não vale a pena, foi um desabafo logo de manhã, a quem, tal como eu já se deu conta do estado da Nação.