Volto agora a escrever acerca da prestação da selecção portuguesa no mundial da África do Sul. Faço-o só agora precisamente porque sinto necessidade de tempo para formular uma opinião sensata. Evito assim os impulsos emocionais vividos na sequência do jogo e após o mesmo. E depois, como se viu, o tempo, esse grande mestre, acaba por revelar muito.
Tenho ainda a vantagem de não seguir a linha dos discursos dos treinadores de segunda-feira (o melhor deles talvez seja João Gobern) que proliferam logo após as partidas e nos dias posteriores às mesmas. Estou plenamente convencido de que muitos desses discursos já não são sobre o jogo, mas sobre os discursos sobre o jogo. E estes, são tão previsíveis, que me fazem lembrar Michel Foucault quando, na sua obra intitulada A ordem do Discurso, nos escreve acerca dos discursos que foram ditos, permanecem ditos, são ditos e serão ditos. Estou persuadido que o mesmo se passa quando muitos falam sobre futebol.
É por isso que não me quero atrever a discutir tácticas e substituições. Sobre as primeiras, aconselho o caro leitor(a) a abrir os cordões à bolsa e a assistir a um congresso no qual os treinadores de futebol consagrados apresentem comunicações sobre tácticas. Experimentem. Por mim, confesso que me senti um ignorante. Eles discutem dinâmicas e pormenores, enquanto os intelectuais de bancada andam a (des)conversar sobre o 4-4-2, o 4-3-3, o 4-2-3-1, o 3-5-1 ou até, na nova criação do jornalista Nuno Luz, da SIC, que numa entrada em directo da Covilhã reportou-se ao 4-4-3 da selecção portuguesa. Fala-se disto, como se o futebol fosse um jogo de matraquilhos em que os jogadores se mantêm fixos nestes esquemas por um varão. Sobre as substituições, podemos concordar ou não. Todavia, é mais fácil comentar depois de sabermos se as mesmas resultaram ou falharam. É como acertar nos números do Euromilhões, depois dos mesmos já terem sido sorteados.
Verificamos agora, a poucas horas do jogo decisivo deste campeonato do mundo, que Portugal foi eliminado por uma selecção que marca presença na final e que muitos consideram mesmo a favorita para a vitória. Se tivermos em conta os jogos que a Espanha disputou após ter eliminado Portugal, verificamos que a selecção espanhola se impôs sempre aos seus adversários com o mesmo estilo de jogo com que derrotou Portugal, sendo que nenhuma selecção foi capaz de a contrariar de forma eficaz.
Por isso mesmo, deixo algumas questões simples: Encontramos no jogo efectuado pelo Paraguai e pela Alemanha contra a Espanha um desempenho assim tão superior ao que Portugal apresentou diante do mesmo adversário? Criaram tantas oportunidades de golo como Portugal criou até sofrer o golo? Chegaram a equilibrar o jogo como Portugal o fez durante alguns períodos do jogo?
Reconheço que o jogo «terminou» após o golo sofrido e a selecção portuguesa foi completamente incapaz de reagir com a resiliência e a intensidade necessárias. Sei também que não há jogos iguais e que estes dificilmente se podem comparar. Mas uma pergunta persiste: alguém fez, em jogo contra a Espanha, muito melhor do que Portugal?
Talvez a Suíça, porque ganhou.
Mas foi eliminada na fase de grupos. Portugal não.
Saudações
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