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quarta-feira, 3 de março de 2010

PARABÉNS MANCHA NEGRA


Hoje pretendo deixar aqui uma saudação especial à claque Mancha Negra, pois este grupo faz 25 anos. Esta, como outras claques, são a prova que acabam mais depressa alguns dirigentes desportivos e até clubes do que propriamente as claques. Por mais que queiram acabar com elas.

A Mancha Negra é também a prova de como é estulta a generalização gratuita que muitos fazem acerca das claques. Eu sei que já se iniciou o julgamento de membros dos No Name Boys. Conheço também a gravidade dos crimes de que os arguidos estão acusados. Já em 1999 questionei mesmo o recurso ao termo Claque para designar os No Name Boys. Os próprios excluem-se do Movimento Ultra. Estão longe de serem representativos do que são as claques em Portugal.

O julgamento que agora se efectua vai precisamente no sentido da responsabilização objectiva e individual. Foi o que sempre defendi. Aqueles que no seio das claques ou a coberto destas perpetram crimes devem ser punidos pelos seus actos; para que tal castigo sirva de exemplo aos outros e funcione como efeito dissuasor. Assim se afastarão aqueles que devem ser afastados, até para benefício das próprias claques.

Ao invés, outros optam por tomar a nuvem por Juno e não distinguem o trigo do joio. Consequentemente, atiram «lama» sobre todos os membros de todas as claques. Classificam assim tudo e todos por actos que apenas uma minoria pratica. Como se as claques fossem todas iguais e, por maioria de razão, todos os membros de cada claque fossem também todas iguais. Como se sentiriam aqueles que desqualificam a generalidade das claques e seus membros se, sobre todos os que pertencem à classe profissional em que se inserem, fossem generalizados os crimes que apenas uma minoria dos que a ela pertence cometeu?

Este discurso pobre, ignorante, redutor e de generalização fácil estigmatiza e tem o efeito perverso de concorrer para a promoção do que se critica. Em consequência do mesmo, e para não sofrerem com tais classificações e etiquetas, alguns membros das claque abandonam os grupos evitando conotar-se com as mesmas aos olhos da opinião pública, do patrão ou até dos professores. Encontrei vários casos desses na minha investigação. Ao invés, uma imagem tão negativa das claques constitui para muitos a motivação para as integrar e prossseguir e reproduzir no seio destas, sob a ilusão do anonimato, uma carreira de delinquência já presente no quotidiano.

No entanto, parece que ninguém se interroga a este respeito. Opta-se por leis que algumas claques fingem cumprir. Por sua vez, as entidades responsáveis pela sua verificação fingem que as mesmas estão a ser cumpridas, nem que seja apenas uma parte. Outros pontos da lei permanecem letra morta, mas com esses ninguém se importa. Mais tarde alguém cá estará para enfrentar os efeitos perversos da legislação, bem mais gravosos do que os problemas actuais. Os primeiros sinais já estão aí, mas isso não é problema. Relativamente às claques todos têm já soluções para tudo, mesmo que estas criem mais problemas - e mais graves - do que aqueles que já existem.

Reitero as minhas felicitações à Mancha Negra pelo seu aniversário e pela opção legal tomada.

1 comentário:

VR disse...

Caro Daniel Seabra,

Muito me apraz saber que alguém que, presumo, está fora do mundo ultra tem uma visão tão sensata e realista quanto a sua.

Um grupo organizado de adeptos é, de facto, uma micro-sociedade que para si tanto atrai elementos que apenas querem apoiar a sua equipa e que encaram o movimento ultra pela positiva como também elementos que se servem do grupo para actividades que nada têm a ver com o futebol ou com o desporto em geral.

Cabe-nos assim, a nós que temos a única e exclusiva preocupação de apoiar a nossa equipa e fazer a festa na bancada, a ingrata tarefa de purgar este nosso mundo ultra.

Muito mais haveria para discutir sobre este tema mas, para já, por aqui me fico.

Cumprimentos,

Vasco Ramos
MN85

Briosa, se jogasses no céu morreríamos para te ver!