ENTRE CAMPOS... UM OLHAR... UM CAMINHO

sábado, 11 de setembro de 2010

AI PORTUGAL ... NÃO TE DEIXES ASSIM VESTIR


Ficamos agora a saber pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros que os recentes acontecimentos relativos à selecção portuguesa de futebol não são bons para a imagem do país.

Obrigado Sr. Ministro pelo alerta.
Por acaso não tínhamos reparado nisso... de tão difícil que era perceber tal enigma.
Mas vá então falar com o seu colega de Governo, Sr. Secretário de Estado da Juventude e o Desporto, bem como com a Federação Portuguesa de Futebol.

O primeiro descobriu, já passado o Mundial, que os factos relativos ao Prof. Carlos Queiroz eram graves. Depois não teve qualquer problema com a imagem de Portugal quando mandou o «recado» à direcção da Federação Portuguesa de Futebol quanto ao que deveria ser a liderança e sobre o que esta deveria ter feito. Depois de «atirar a pedra» remeteu-se ao silêncio ensurdecedor.

Agora temos uma Federação que despede o treinador afirmando justa causa para tal e insinuando uma diminuição de resultados. Certamente deve ter sido o treinador o responsável por um falhanço inacreditável do guarda-redes da Noruega ou pela fraca prestação defensiva da equipa em Guimarães. Foi o Prof. Carlos Queiroz o culpado da lesão de Cristiano Ronaldo que, à semelhança de muitas lesões de muitos jogadores no passado, o impediu apenas de jogar pela selecção, mas com recuperação milagrosa garantida para o próximo jogo do clube. Na verdade, os jogadores vão dando grande demonstração da sua Portugalidade e amor à causa.. enquanto são titulares Quando tal não acontece, mandam logo a cartinha a porem-se ao «fresco». Gerem os seus próprios interesses...

O Conselho de Disciplina da Federação impede, pela aplicação de um castigo desproporcional, que o treinador oriente a equipa. Depois vem alguém agravar o castigo, julgando em causa própria e deitando para o caixote do lixo a decisão de juristas. E a Federação, «servindo-se» de um castigo que contraria uma decisão de um dos seus próprios órgãos, perde o respeito por si própria e despede o treinador.

A imagem de Portugal sai afectada, mas não apenas por este processo kafkiano. A imagem de Portugal fica marcada pelos já habituais ínvios atalhos onde «os chicos espertos» aproveitam uma pena desajustada e que transforma, como escreveu Foucault, o prevaricador em vítima, para «chutar» para as calendas dos tribunais o pagamento do «papelinho» que eles próprios acordaram escrever no contrato. E assim se faz um saneamento, mas ao contrário. Não como os do P.R.E.C.

E assim se perde um projecto, em detrimento do imediatismo resultadista sempre dependente da bola no poste ou do árbitro.

É por estas assim que o grande escritor Jorge de Sena sublinhou a cultura necrófila de Portugal. Na verdade, sofremos mesmo de uma autofagia que nos arruína. Por isso me recordo agora de alguns versos da conhecida canção de Sérgio Godinho Não te deixes assim vestir, do já antigo disco intitulado Coincidências.

Ai Portugal. Dar-te conselhos é bem pouco original
Mas se realmente não quiseres querer-te mal
Olha para ti ó Portugal e não te deixes assim vestir
É que há coletes que são de força
Por mais que o digam não ser.
E há casacas feitas já para se virar
por mais que o digam não ser.
Assim como há botas difíceis de descalçar
por mais que o tentem não ser.
E há coturnos que eu diria «são soturnos»
por mais que o tentem não ser.

Sem comentários: