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terça-feira, 21 de junho de 2011

villas-boas OU O ANIQUILAMENTO DE CARÁCTER

«Estou na minha cadeira de sonho e não abdico dela por nada.»
andré villas-boas dixit


O sociólogo norte-americano Richard Sennet escreveu uma importante obra que se intitula A Corrosão de Carácter. Esta é, em síntese, entendida pelo autor como uma consequência de um capitalismo global que precariza o emprego e, por conseguinte, pressiona as pessoas a abdicarem de alguns princípios éticos e do seu carácter com o intuito de manter, a todo o custo, a sua fonte de sobrevivência.

Se tal corrosão de carácter poderá até ser compreensível em função da necessidade de garantir as dignas condições de vida a uma família, a mesma é, todavia, completamente intolerável quando as mesmas estão largamente asseguradas por um salário de fazer inveja a qualquer trabalhador português.

A saída de andré villas-boas para o Chelsea F.C., agora oficial, configura, a meu ver, um exemplo redondo, não apenas de corrosão, mas de total aniquilamento de carácter.

Bem sei que o rapazinho é um treinador profissional e tem, portanto, todos os direitos - mas também os deveres - que decorrem de tal profissão. É, pois, legítima a sua ambição de auferir um melhor vencimento, mesmo que para tal tenha que recorrer a uma cláusula de rescisão.  No entanto, continuo a entender que quem tem no contrato uma cláusula de rescisão pretende sempre garantir a possibilidade de não cumprir com aquilo a que, livremente, se comprometeu durante um período de tempo determinado.

No presente caso, se alguém houve que definiu e delineou outros contornos que não apenas laborais e profissionais para a relação estabelecida com o Futebol Clube do Porto foi o próprio andré villas-boas.

Basta recorrer ao que o miúdo propalou com grandiloquência para demonstrar que foi ele quem exaltou a sua relação afectiva com o FUTEBOL CLUBE DO PORTO, assumindo e sublinhando, inequivocamente, a sua condição de adepto e sócio do FUTEBOL CLUBE DO PORTO, por sinal com um número mais baixo do que o meu.

Deixo, pois, algumas das suas palavras, escolhidas e enumeradas por Bernardino Barros:

- "Cresci adepto do FCPorto e vivi o clube das mais variadas formas"

- "O FCPorto está presente em mim desde muito cedo, desde que tenho memória"

- "Já fui membro dos super dragões"

- "Estou na minha cadeira de sonho e não abdico dela por nada"

- "O meu futuro está completamente ligado ao FC Porto"

- "Se ficar 15 anos no clube que adoro, por mim está bem"


Ninguém obrigou o andrezinho a dizer isto. Se o disse, foi porque quis. E disse que não abdicava. POR NADA. E o futuro estava ligado ao clube.

Se é verdade que as palavras são levadas pelo vento; não é, porém, menos verdade, que as mesmas têm uma dimensão pragmática e geram consequências.  E estas palavras assumiam claramente um carácter de promessa, tendo gerado expectativas e impressões. E muitos portistas confiaram nelas. Deveriam, portanto, ser penhor de honra. E não foram.

Foi também com base nelas que Pinto da Costa afirmou a certeza da permanência do miudo, afirmando que ele não queria sair.

Sabemos, hoje, que eram, como escreveu Pedro Tamen, «palavras sem sentido».

Bem sei que a palavra falece,  muitas vezes, perante o dinheiro. Mas isso só acontece, como mencionou ontem Ribeiro Cristovão na SIC Notícias, quando falta coluna vertebral e sobra garoto.

Mourinho, que nunca se afirmou adepto do FUTEBOL CLUBE DO PORTO e ao qual nunca fez juras de amor eterno, saiu atempadamente e deu tempo para o clube preparar a nova época. Ao invés, aquele que procurou evocar o carácter como elemento distintivo de Mourinho, saiu depois de dizer o que disse, escolhendo para tal um momento que coloca dificuldades ao clube. Demonstrou, pelo que disse e fez, pelo tempo e pelo modo, o seu carácter ... ou a ausência dele.

De Mourinho, sabemos que lê a Bíblia. O rapazinho parece que não. Se a lesse, certamente que se reveria nas palavras do Rei Salomão quando este afirmou: «o que amar o dinheiro nunca de fartará de dinheiro e quem amar a abundância, nunca de fartará da renda. Isto é vaidade.» Nós, adeptos do FUTEBOL CLUBE DO PORTO, também a deveríamos ler. Pelo menos saberíamos que «maldito é o homem que confia no homem.»

Mesmo depois de ter dito que não abdicava da cadeira de sonho POR NADA, saiu respaldando-se numa relação meramente contratual.

Assim sendo, não agradeço NADA a villas-boas. Se a base de relacionamento é contratual e profissional, então o miúdo fez apenas o que estava obrigado a fazer, pois foi principescamente pago para trabalhar e atingir os objectivos do clube. NADA há, portanto, para agradecer.

Por fim, e isto é que é o mais importante, com A, B ou C, vamos continuar a cumprir o nosso destino:


VENCER


E votos de longa vida aos inimigos do FUTEBOL CLUBE DO PORTO que estão contentes com a saída do miúdo. Longa vida para que assim possam continuar a assistir às nossas vitórias futuras.

4 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo plenamente:)

joao Costa disse...

Conhecendo o sr Pinto da costa, nao ha ponto sem nó.... cheira-me que o Porto encaixa mais de 100 milhoes em VB e jogadores... quem nos garante que nao foi articulado com o PC?

José Lázaro disse...

Daniel,
Subscrevo por inteiro o teu post, reflecte o sentimento e análise que os Portista fazem, em relação ao andrézinho. Ele, brincou com o Clube, com os sentimentos do adeptos e fez com que Jorge Nuno,aquando da homenagem aos Campeões lhe dirigisse os maiores encómios, rotulando andré vb, de tão portista como Ele.
Onde estão os valores como: Palavra, lealdade, carácter, coerência e GRATIDÃO...?
Estou de facto muito desiludido.

José Lázaro disse...

...Desiludido, mas confiante na nova época com, Vitor Pereira e também com os jogadores, que vão mostrar, que o FC Porto, é muito mais que um andrézinho qq.