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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Assobios no Estádio do Dragão... AFINAL DE QUE LADO ESTAMOS?



O antropólogo francês Christian Bromberger defendeu que o olhar para um jogo de futebol que visa contemplar apenas a dimensão artística que este proporciona enquanto espectáculo é semelhante à contemplação de um nú artístico. Para ele, a emoção de um jogo de futebol só é vivida em pleno desde que os espectadores tomem partido por uma das equipas presentes e a apoiem.

Tal apoio estabelece a condição de adepto e a mesma não é fácil de conjugar com a condição de espectador interessado na qualidade e beleza do jogo. Para ser coerente, o espectador deverá entusiasmar-se e aplaudir as boas jogadas de ambas as equipas e as talentosas acções individuais dos jogadores. Como todos sabemos, não é assim que os adeptos dos clubes se comportam. Estes procuram incentivar os jogadores do seu clube aplaudir o seu bom desempenho. Ao invés, apupam as acções dos jogadores da equipa adversária. Tentam desta forma contribuir para a vitória do seu clube.

É nesta lógica que não consigo enquadrar os assobios e apupos dos adeptos à equipa que era suposto apoiarem. Para além de depender de uma dialéctica de mérito/demérito de ambas as equipas em compita, o resultado de um jogo de futebol é incerto e o decurso do mesmo gera tensão nos jogadores. Assobios e apupos durante o jogo potenciam o nervosismo e a ansiedade. São, por isso, um elemento adicional que prejudica o desempenho dos jogadores e pode, desta forma, beneficiar a equipa adversária.

Se o pagamento de bilhete outorga o direito de protestar contra o fraco desempenho da equipa predilecta, assuma-se então a condição de espectador e aplauda-se, em consonância com a mesma, o bom desempenho da equipa adversária. Por outro lado, ser adepto, um bom adepto, pressupõe apoiar sempre a equipa e não prejudicá-la com assobios. Se esta dualidade não for resolvida, teremos maus adeptos e maus espectadores.

1 comentário:

José Carlos Oiveira disse...

Excelente. Plenamente de acordo.